terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Minissaia e a liberdade à Brasileira...

Por Adriana Berger, Professora de História e Literatura Brasileiras.

Expresso preocupação com a teoria e a prática da liberdade que se alastram pelo país, a liberdade à brasileira.

Pelo que vi em grandes e pequenas cidades, o Brasil passa por um momento de grande licenciosidade, vulgaridade, superficialidade, besteirol.

Vi meninas dançando em cima de garrafas, sexo aberto em bailes e shows; em novelas, programas de entretenimento, o corpo da mulher é usado e abusado.

90% da programação nacional da TV aberta é sobre cirurgia plástica, cosméticos, penteados, fofocas, brigas domésticas, rezas e "curas", receitas, remédios, cães e bichos, violência, piadas de bêbado e homossexual.

"Psicólogos", "conselheiras" sentimentais e familiares usam sofrimentos de pessoas em programas sensacionalistas.
Há "formadores de opinião" para qualquer assunto.

Afirmo, sem medo de errar, que nós precisamos é de formadores de caráter!

Há um grande apagão cultural. É como se todos estivessem sonâmbulos. Não se discute nada de profundo, alternativas para o país. A juventude, sem sonhos e poesia, não tem em quê ou em quem se inspirar. Contrabando é crime, mas, artigos contrabandeados são vendidos nas ruas, na cara da polícia.

O cerrado e a floresta, destruídos, as cidades em colapso no trânsito e na urbanidade, crime e violência por toda parte. Milhões de brasileiros nas filas de atendimento da péssima saúde pública!

O Brasil continua exportando matéria-prima e importando bugigangas, há baixas produção científica e tecnológica, cada vez menos formandos em matemática, engenharia, física, química, biologia, ciências exatas.

Se escolas e universidades se comportassem como instituições a formar cidadãos para o equilíbrio social e moral do país, discussões públicas velhas e exageradas como essa da minissaia em universidade paulista não prosperaria.

O "x" da questão não está na altura da saia rosa-choque da aluna, mas como, onde e por que, foi usada.
O que fez parte da "imprensa séria", onde microfones e páginas estão nas mãos de "formadores de opinião"? Usou o assunto para aumentar audiência e tiragem!

Isto é critica à Uniban, por seu interesse mercantilista.

O que fez a revista, ao dar capa à minissaia com reportagem cheia de frases do movimento feminista dos anos 60/70?

Nenhuma palavra sobre regras, normas, comportamento nas escolas, em sala de aula, respeito mútuo. Destacaram mulheres com os seios de fora em Brasília, defensoras da garota da capa.

A star is born (Nasce uma estrela)
Com apoio da TV Globo nasce uma estrela nos costumes e no show biz brasileiro.
O cenário se repete: A moça já foi convidada para posar nua; vai desfilar na escola de samba Porto da Pedra.
Em breve poderá ter seu espaço televisivo e ser mais uma formadora de opinião.

No programa "Altas Horas" ela sentou-se na cadeira da fama, mas de jeans. Mandou recado para milhões de garotas: "a roupa é minha, visto como quiser, às sextas sempre vou a baladas e já saio de casa vestida e não devo satisfação a ninguém, aquele vestido é um dos mais discretos que uso". Recebeu apoio de universitárias de Brasília com os seios à mostra: "se quiser ir nua que vá, é a liberdade de cada um; o corpo é meu, ninguém tem nada com isso".

O apresentador do programa, com cara de pateta, cercado por estudantes-tietes, achando-se o máximo por promover a "liberdade".

Uma aluna de minissaia, saltos altos, super maquiada, produzida para baladas, em aula noturna, no meio de marmanjos, ou está com problemas de aceitação, chamando atenção para ser notada; ou não sabe a diferença entre o vulgar e o popular; ou está querendo bagunçar com um confronto premeditado.

Nas escolas do mundo todo há normas, uniformes, regras de comportamento onde muçulmanos, cristãos, budistas, ateus, ricos e pobres, educam jovens que continuarão a defender valores e princípios de seus povos e países.

Psicólogos e professores, ao perceberem o comportamento da aluna, deveriam ter conversado com ela, orientando-a, ajudando-a a superar fobias e rejeições. Não o fizeram.
A reação de estudantes foi desmedida, vazia de conteúdo.

Sem instituições sólidas, cria-se a liberdade à brasileira.
Em que ou em quem se espelha a aluna do microvestido?
O que tem aprendido em ética, valores, comportamento e convivência social? O que ela ouve e vê a seu redor?
"Sou livre, visto o que quiser a hora que quiser".

Num país sem retentores morais, com apatia política e cultural, sem critérios, a garota não tem a quem responder ou dar satisfação, nem em casa, nem na escola; nem à sociedade, nem ao país.

"Se, juiz e desembargador podem, eu posso; se deputado e senador fazem, eu também posso fazer; se o presidente, seus ministros, o prefeito, podem, eu também posso".

A TV incentiva quebradores de regras. Cria espaço para mulher-melancia, samambaia, melão, morango. Popozudas ensinam danças, abrem as nádegas e, se abaixam, para mostrar mais.

O "Fantástico" da TV Globo, no dia 15 de novembro entrou em milhões de lares promovendo o livro e o filme da ex-prostituta Surfistinha, a garota da mina saia e o concurso Menina Fantástico. A Proclamação da República, data histórica do povo brasileiro não interessa. Não dá IBOPE!

Em dez minutos, a Globo daria a milhões de jovens uma necessária aula da queda do Império, da velha República, da Era Vargas, JK, da ditadura militar e, em 15 de novembro de 1989, a Nova República.

Estão rasgando páginas de nossa história. A memória nacional se extingue. Com tanta noticia que precisa ser dada ao povo, o noticiário noturno (Globo), no dia 16/11, se despediu destacando prostituta de noticia velha de tablóide inglês.

O que ensina e estimula a mais rica e poderosa escola do Brasil? Não há na TV aberta brasileira (concessão pública) incentivo ao cumprimento de leis, a regras de respeito mútuo, à solidariedade e cooperação.
Destaques -astros e estrelas- são os da marginalidade, corruptos bem-sucedidos, políticos mentirosos, os da sexualidade vulgar.

Meu querido Brasil: rico por natureza, mas pobre de cidadania, princípios e ética.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Acreditar


Um viajante ia caminhando em solo distante,
as margens de um grande lago de águas cristalinas.
Seu destino era a outra margem.
Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte.
A voz de um homem coberto de idade, um barqueiro, quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo.
O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho.
Logo seus olhos perceberam o que pareciam ser letras em cada remo.
Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, o viajante pode observar que se tratava de duas palavras, num deles estava entalhada a palavra ACREDITAR e no outro AGIR.
Não podendo conter a curiosidade, o viajante perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro respondeu pegando o remo chamado ACREDITAR e remando com toda força.
O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava.
Em seguida, pegou o remo AGIR e remou com todo vigor.
Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.
Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, remou com eles simultaneamente e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago chegando ao seu destino, à outra margem. Então o barqueiro disse ao viajante:
-- Esse porto se chama autoconfiança. Simultaneamente, é preciso ACREDITAR e também AGIR para que possamos alcançá-lo!

A saúde totalitária

ELISABETH ROUDINESCO

ESPECIAL PARA O "LE MONDE"

É na tradição de Georges Canguilhem, para a história da ciência médica, e de Michel Foucault, para a crítica de seus exageros, que Roland Gori, psicanalista e professor de psicopatologia, e Marie-José del Volgo, médica e psicóloga, abordam em um belo ensaio uma das questões centrais para a medicina moderna [em "La Santé Totalitaire", ed. Denoël] : o que fazer com o sofrimento moral dos pacientes confrontados, de um lado, com a grande precisão das técnicas de exame, avaliação e verificação - radiologia, tomografia, ressonância magnética, controles sanguíneos - e, de outro, com a formidável eficácia dos tratamentos pesados: cirurgia, radioterapia, quimioterapia etc.?

Antigamente a morte pertencia a Deus, o único habilitado a dar a vida e a tirá-la. A doença era então considerada uma maldição enviada aos homens que haviam traído as leis da cidade ou da genealogia ou como uma punição infligida àqueles que haviam pecado. Durante séculos, a medicina foi exercida por "homens da arte" - filósofos e práticos - que se encarregavam do governo dos corpos e das almas.

Mas com o surgimento da medicina científica, ao longo do século 19, um novo tipo de médico assumiu o lugar outrora ocupado por Deus. Cercado de respeito, este se pôs a dirigir com a autoridade de um rei o destino de seus pacientes, escondendo deles a verdade e escolhendo para seu bem um tratamento adequado.

Hoje em dia essa situação se inverteu. Transformado em simples especialista, o médico não é mais o senhor em seu domínio. E de repente o paciente é convidado a dar um "consentimento esclarecido" ao tratamento que lhe administram. Mas como ser parceiro de um sofrimento que a ciência médica, muitas vezes, domina somente como estatística?

Pelo próprio fato de sua sofisticação, os tratamentos destinados às patologias graves não podem levar em conta os estados de alma e as angústias ligadas ao surgimento da doença. Pior ainda, às vezes eles têm um efeito devastador sobre o paciente fragilizado. Quem não tremeu enquanto esperava o resultado de um exame que poderia confirmar ou negar um prognóstico sombrio?

Sabemos que os progressos da medicina moderna tiveram como efeito nefasto estender as categorias da norma e patologia a comportamentos sociais que não são conseqüência de uma doença, mas de uma vontade de normalizar as consciências.

Assim nasceram os desvios de um higienismo de Estado, do qual somos herdeiros e que consistem, além das políticas necessárias de saúde pública, em medicalizar todos os atos de nossa existência: paixões, sexo, pensamento, alimentação, modos de vida. Daí o nascimento de uma mentalidade securitária que visa a tornar o paciente responsável por suas doenças e pelos danos que elas causam à sociedade. Hoje, o problema orgânico não vem mais dos deuses nem da natureza, mas de comportamentos humanos considerados desordenados ou errados.

Mas esse progresso também teve por conseqüência favorecer em escala mundial o divórcio entre a abordagem do corpo e a da alma. Quando o especialista dos países ricos se baseia na ciência para aplicar aos pacientes terapêuticas impessoais, este se sente obrigado, para tratar sua alma, a recorrer a medicinas ditas "alternativas" e sem eficácia.

Ao contrário, nos países pobres, onde a medicina científica ainda não foi implantada, as terapêuticas tradicionais se ocupam da alma enquanto finge curar o corpo.

Assim, quanto mais a medicina enriquece em resultados diante da doença, mais ela empobrece em sua relação com o paciente. Mas, quanto mais ela é ineficaz no plano orgânico, mais é benéfica para a alma do paciente cujo corpo é abandonado à morte. Sem renunciar a uma opção explícita a favor da medicina científica e sem ceder jamais a maniqueísmos, Gori e Del Volgo mostram que é preciso reinventar uma abordagem do paciente que leve em conta tanto as necessidades científicas quanto o sofrimento psíquico.

Elisabeth Roudinesco é historiadora da psicanálise francesa, autora de "Jacques Lacan" (Companhia das Letras) e "Por Que a Psicanálise" (Jorge Zahar).

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.


Dois homens, seriamente doentes, ocupavam o mesmo quarto de um hospital.
Um deles ficava sentado em sua cama por uma hora todas as tardes para conseguir drenar o líquido de seus pulmões. Sua cama ficava próxima da única janela existente no quarto. O outro homem era obrigado a ficar deitado de bruços em sua cama o tempo todo. Eles conversavam muito. Falavam sobre mulheres e suas famílias, suas casas, seus empregos, seu envolvimento com o serviço militar, aonde costumavam ir em suas férias. E toda tarde quando o homem perto da janela podia se sentar, ele passava o tempo todo descrevendo ao seu companheiro de quarto todas as coisas que ele podia enxergar através da janela. O homem na outra cama começou a criar o hábito de esperar por esse período onde seu mundo era ampliado e animado pelas descrições de seu companheiro.
Ele dizia que da janela dava para ver um parque com um lago magnífico, onde patos e cisnes nadavam e muitas crianças brincavam com seus barquinhos de papel. Jovens namorados andavam abraçados no meio das flores que, de tão lindas, encantavam qualquer um que passasse próximo do local.
Grandes árvores cheias de elegância na paisagem e uma fina linha laranja podiam ser vistas do horizonte.
Quando o homem próximo da janela fazia as suas descrições, ele o fazia de modo primoroso e delicado, com detalhes e o outro homem fechava os seus olhos e imaginava a cena descrita.
Em uma tarde quente de verão, o homem próximo a janela descreveu um desfile, que, embora não pudesse ouvir a música podia, todavia, descrever com clareza a linda cena que se passava.
Dias e semanas se passaram desde então. Em uma manhã bonita e ensolarada a enfermeira chegou trazendo água para o banho dos dois homens, mas um deles estava morto...
O homem que estava próximo da janela havia morrido, pacificamente, durante o seu sono noturno. A enfermeira estava entristecida e chamou os atendentes do hospital para levarem o corpo.
Assim que julgou conveniente , o outro homem, pediu para que a enfermeira o colocasse próximo da janela. A enfermeira ficou feliz em poder fazer esse favor e depois de verificar que o paciente estava confortável, o deixou sozinho no quarto.
Vagarosamente, pacientemente, lutando contra a dor, ele conseguiu finalmente apoiar seus cotovelos para olhar pela primeira vez pela janela. Finalmente ele poderia ver tudo por si mesmo. Ele se esticou ao máximo, para poder ver através da janela, e quando conseguiu, deparou-se com um muro todo branco.
Ele perguntou para a enfermeira, assim que teve a chance, o que havia levado o seu amigo a lhe descrever coisas tão belas ao longo dos dias que lhe restavam, pois daquele local a única coisa que podia ser vista era o imenso muro branco.
A enfermeira respondeu que aquele homem era cego...

Filho, nem sempre mostrar a vida como ela é ajuda quem queremos ajudar ou consolar...

Beijo do seu pai...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Três educadores... expressões maiores de um mundo livre...

- Maria Montessori e o Método Montessoriano In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori

- Paulo Freire e o Método Paulo Freire In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

- O melhor dos três: August Boal In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Boal

A educação da liberdade e o fim da opressão...

A teoria dos três estados de desenvolvimento moral


Trechos extraídos do Livro Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana escrito por Pestalozzi em 1797, (traduzido do original alemão Meine Nachforschungen über den Gang der Natur in der Entwicklung des Menschengeschlechts):
Estado natural

O homem nesse estado é filho puro do instinto, que o conduz simples e inocentemente para todos os gozos dos sentidos.

Estado social

O homem como espécie, como povo não se submete ao poder como ser moral, nem tampouco entra na sociedade e na cidadania para servir a Deus ou amar ao próximo. Ele entra na sociedade e no estado de cidadania para tornar sua vida mais alegre e para gozar tudo o que seu ser animal e sensorial tem que gozar e para que seus dias sobre a terra transcorram satisfeitos e tranqüilos. O direito social não é assim um direito moral, mas apenas uma modificação do direito animal. ( …)

O poder só pode exigir de mim que eu seja um homem social. Ele não pode exigir que eu seja um homem moral. Se eu o sou, sou-o para mim e não para ele. O poder só pode exigir de mim que eu seja um homem moral na medida em que ele mesmo o seja, isto é, se ele não for poder, não se comportar como poder. Só pode exigir de mim, se ele viver a força de sua divindade, não para ser servido, mas para servir e dar a vida para a redenção de muitos. (…)

Simples satisfação é a cota do estado natural. Esperança é a cota do estado social. Não pode ser diferente: toda a estrutura da vida social repousa em representações que basicamente não existem – ela é uma representação. Propriedade, lucro, profissão, autoridade, leis são meios artificiais para satisfazerem minha natureza animal pela escassez de liberdade animal. (…)

Estado moral

Se eu alcançar na minha condição e na profissão tudo o que eu posso alcançar, se minha felicidade está garantida pelo direito, em suma, se eu, no pleno sentido da palavra, for um cidadão e se a palavra de meu país, liberdade – liberdade –, soasse novamente na boca dos homens honestos e felizes, estaria eu então satisfeito no meu íntimo? Deveria pensar que sim, mas não é verdade (…), o direito social não me satisfaz, o estado social não me realiza, não posso permanecer tranqüilo sobre o fundamento da minha formação civil, como não posso permanecer no mero prazer sensual e animal – sou , em todo o caso, através dessa formação, emudecido; na minha alma entraram desconfiança, sinuosidade e intranqüilidade, que nenhum direito social pode desfazer. (…)

Se eu te declaro animal no envoltório do teu nascimento, não coloco o objetivo da tua perfeição nos limites do invólucro da tua origem. Vejo o interior do teu ser como divino, assim como o ser interior da minha natureza (…). Se o homem planta uma árvore ou uma flor, ele a enterra no solo, põe esterco na raiz e a cobre de terra. Mas o que ele faz com tudo isso ao ser íntimo da flor? O material, através do qual a semente se desenvolve, é em toda a natureza infinitamente de menor valor que a semente em si. (…)

Logo vi que as circunstâncias fazem o homem, mas vi também que o homem faz as circunstâncias, tem uma força em si mesmo que pode conduzir de várias maneiras, segundo sua vontade. (…)

Como obra da natureza, sinto-me livre no mundo para fazer o que me agrada e me sinto no direito de fazer o que me serve.

Como obra da espécie, sinto-me no mundo atado a relações e contratos, fazendo e suportando o que essas relações me prescrevem como dever.

Como obra de mim mesmo, sinto-me livre do egoísmo da minha natureza animal e das minhas relações sociais, e ao mesmo tempo no direito e no dever de fazer o que me santifica e o que santifica o meu ambiente.(…)

Como obra da natureza, sou um animal perfeito. Como obra de mim mesmo, esforço-me pela perfeição. Como obra da espécie, procuro me tranqüilizar num ponto sobre o qual a perfeição de mim mesmo não é possível.

A natureza fez a sua obra inteira, assim também faze a tua.

Reconhece-te a ti mesmo e constrói a obra do teu enobrecimento sobre a consciência profunda de tua natureza animal, mas também com a consciência completa da tua força interior de viver divinamente no meio dos laços da carne.

Quem quer que tu sejas, acharás nesse caminho um meio de trazer tua natureza em harmonia contigo mesmo. Queres porém fazer tua obra apenas pela metade, quando a natureza fez a dela inteira? Queres estacionar no degrau intermediário entre tua natureza animal e tua natureza moral, sobre o qual não é possível o acabamento de ti mesmo? – Então não te espantes de que serás um costureiro, um sapateiro, um amolador ou um príncipe, mas não serás um homem.

Não te espantes então de que tua vida seja uma luta sem vitória e que nem sequer te tornes o que a natureza, sem a tua ação, fez de ti – mas muito menos serás um meio-homem civil. (…)

O princípio de que o bem do homem e o direito do homem repousam inteiramente na subordinação das minhas exigências animais e sociais à minha vontade moral é outra maneira de dizer o resultado do meu livro.


Johann Heinrich Pestalozzi


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

ESCRITO POR REGINA BRETT (90 ANOS)



"Para celebrar o envelhecer, uma vez eu escrevi 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais requisitada que eu já escrevi.
Meu taximetro chegou aos 90 em Agosto. Então aqui está a coluna mais uma vez:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3 A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.
4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer. Seus amigos e seus pais vão. Mantenha contato.
5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.
6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para descordar.
7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.
8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele aguenta.
9. Poupe para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.
10.. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.
11. Sele a paz com seu passado para que ele não estrague seu presente. (Uma de minhas favoritas)
12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.

14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.
15 Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe: Deus nunca pisca.
16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.
17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeiroso.
18. O que não te mata realmente te torna mais forte.
19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz. Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite não como resposta.
21. Acenda velas, coloque lençóis bonitos, use lingerie elegante. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Se prepare bastante. Depois, deixe-se levar pela maré..
23. Seja excêntrico agora. Não espere ficar velho para usar roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade além de você.
26. Encare cada "chamado desastre" com essas palavras: em cinco anos, vai importar?
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todos.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.
31. Indepedente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.
32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais se leva...
33. Acredite em milagres.
34. Deus te ama por causa de quem Deus é, não pelo que você fez ou deixou de fazer.
35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela AGORA!
36. Envelhecer é melhor do que a alternativa morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância.
38. Tudo o que realmente importa no final é que você amou.
39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta.
41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor está por vir.
43. Não importa como você se sinta: levante, se vista e apareça.
44. Produza.
45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente!!!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O porteiro do prostíbulo



Não havia no povoado pior ofício do que 'porteiro do prostíbulo'.

Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem? O fato é que nunca tinha
aprendido a ler nem escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.

Um dia, entrou como gerente do prostíbulo um jovem cheio de idéias,
criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento.

Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções. Ao
porteiro disse:

-- A partir de hoje, o Senhor, além de ficar na portaria, vai preparar
um relatório semanal onde registrará quantidade de pessoas que entram
e seus comentários e reclamações sobre os serviços.

-- Eu adoraria fazer isso, Senhor - balbuciou - mas eu não sei ler
nem escrever!

-- Ah! Quanto eu sinto! Mas se é assim, já não poderá seguir trabalhando
aqui.

-- Mas Senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisto a minha vida
inteira, não sei fazer outra coisa.

-- Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo Senhor. Vamos
dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo que fazer. Eu
sinto muito e que tenha sorte.

Sem mais nem menos, deu meia volta e foi embora.

O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer? Lembrou que
no prostíbulo, quando quebrava alguma cadeira ou mesa, ele a arrumava,
com cuidado e carinho.

Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas
só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado.
Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas
completa. Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois
dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra.

E assim o fez. No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:

-- Venho para perguntar se você tem um martelo para me emprestar.

-- Sim, acabo de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar ... já que...

-- Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.

-- Se é assim, está bom.

Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e disse:

-- Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque você não o vende para mim?

-- Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens
mais próxima está há dois dias mula de viagem.

-- Façamos um trato - disse o vizinho. Eu pagarei os dias de ida e volta
mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento. Que
lhe parece?

Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias ...aceitou.
Voltou a montar na sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho o
esperava na porta de sua casa.

-- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu necessito de
algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe seus dias de viagem,
mais um pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho
de tempo para viajar para fazer compras . Que lhe parece?

O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um
alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira.

Pagou e foi embora.

E nosso amigo guardou as palavras que escutara:

-- Não disponho de tempo para viajar para fazer compras.

Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para
trazer as ferramentas. Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de
dinheiro trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido. De fato,
poderia economizar algum tempo em viagens. A notícia começou a se espalhar
pelo povoado e muitos, querendo economizar a viajem, faziam encomendas.

Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o
que precisavam seus clientes. Com o tempo, alugou um galpão para estocar
as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão
e transformou o galpão na primeira loja de ferragens do povoado. Todos
estavam contentes e compravam dele. Já não viajava, os fabricantes lhe
enviavam seus pedidos. Ele era um bom cliente.

Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua
loja de ferragens, do que gastar dias em viagens.

Um dia ele lembrou de um amigo seu que era torneiro e ferreiro e pensou
que este poderia fabricar as cabeças dos martelos..

E logo, por que não, as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras,
etc.. E após foram os pregos e os parafusos....

Em poucos anos, nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico
e próspero fabricante de ferramentas. Um dia decidiu doar uma escola
ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam
algum ofício. No dia da inauguração da escola, o prefeito lhe entregou
as chaves da cidade, o abraçou e lhe disse:

-- É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a
honra de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de Atas
desta nova escola.

-- A honra seria minha - disse o homem. Seria a coisa que mais me daria
prazer, assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.

-- O Senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar. O Senhor construiu
um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado.
Eu pergunto: o que teria sido do Senhor se soubesse ler e escrever?

-- Isso eu posso responder - disse o homem com calma. Se eu soubesse
ler e escrever ... ainda seria o porteiro do prostíbulo!

Geralmente as mudanças são vistas apenas como adversidades..

As adversidades podem ser benefícios.

As crises estão cheias de oportunidades.

Se alguém lhe bloquear a porta, não gaste energia com o confronto;
procure as janelas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Poder da Validação


Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os super confiantes simplesmente
disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes, nem colegas de
trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos
primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça já tenha sido
encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do
público, é que o ator relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada artigo que
escrevo e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos
neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros.

Segurança não depende da gente, depende dos outros.

Está totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca
é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.
Segurança depende de um processo que chamo de "validação", embora para
os estatísticos o significado seja outro.

Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação
é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém
seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira,
que ela tem valor. Todos nós precisamos ser validados pelos outros,
constantemente.

Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou
bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos,
não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.
Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado
para mim". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz:
"Amo você!".

Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma grande mulher"
(e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação
que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você
validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a própria insegurança
que não temos tempo para sair validando os outros.

ESTAMOS TÃO PREOCUPADOS EM MOSTRAR QUE SOMOS O "MÁXIMO" que esquecemos
de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o "MÁXIMO" são ELES.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o
"ter" e não o "ser".

Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou
dominar os outros em busca de poder. Validação permite que pessoas sejam
aceitas pelo que realmente são e não pelo que gostaríamos que fossem.

Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si
mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar
e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio
certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas,
um beijo, um dedão polegar para cima, um "valeu cara, valeu".


Stephen Kanitz

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Anel...



- Venho aqui, professor, porque me sinto tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?

O professor sem olhá-lo, disse:
- Sinto muito meu jovem, mas não posso te ajudar, devo primeiro resolver meu próprio problema. Talvez depois.

E fazendo uma pausa falou:
- Se você me ajudasse, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois talvez possa te ajudar.

- C... Claro, professor - gaguejou o jovem.

Mas se sentiu outra vez desvalorizado e hesitou em ajudar seu professor. O professor tirou um anel que usava no dedo pequeno e deu ao garoto e disse:
- Monte no cavalo e vá até o mercado. Devo vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceite menos que uma moeda de ouro. Vá e volte com a moeda o mais rápido possível.

O jovem pegou o anel e partiu. Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel. Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros saiam sem ao menos olhar para ele, mas só um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.

Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.

Depois de oferecer a jóia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso montou no cavalo e voltou. O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, assim livrando a preocupação de seu professor e assim podendo receber ajuda e conselhos. Entrou na casa e disse:

- Professor, sinto muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir 2 ou 3 moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do anel.
- Importante o que disse meu jovem - contestou sorridente - devemos saber primeiro o valor do anel. Volte a montar no cavalo e vá até o joalheiro. Quem melhor para saber o valor exato do anel? Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dá por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda. Volte aqui com meu anel.

O jovem foi até o joalheiro e lhe deu o anel para examinar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse:
- Diga ao seu professor, se ele quer vender agora, que não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel.
- 58 MOEDAS DE OURO!!! - exclamou o jovem.
- Sim, replicou o joalheiro, eu sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de 70 moedas, mas se a venda é urgente...

O jovem correu emocionado à casa do professor para contar o que ocorreu.
- Senta - disse o professor. E depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou disse:
- Você é como esse anel, uma jóia valiosa e única. E que só pode ser avaliada por um expert. Pensava que qualquer um poderia descobrir o seu verdadeiro valor???

E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.
- Todos somos como esta jóia. Valiosos e únicos e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem. Ninguém pode te fazer sentir inferior sem seu consentimento.

Maktub

domingo, 7 de junho de 2009

Maneiras diferentes de se ver a vida...


Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...
Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.

E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.

"Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura."

Fernando Pessoa

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O medo causado pela inteligência


Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas.

O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:

-- Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável ! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta".

Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava numa carreira difícil.

Isso, na Inglaterra.

Imaginem aqui, no Brasil.

Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:

"Há tantos burros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência".

A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições.

Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.

Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.

Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos. Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer neste grupos de mediocres .

É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência,por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas... Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.

É um paradoxo angustiante !

Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues...

Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra".

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar!

Que Deus nos proteja, então, dos medíocres!...


- Filho querido, sei muito bem o que é isso.. Beijo com amor...


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Círculo dos 99


Era uma vez um Rei muito triste; que tinha um pajem, que como todo pajem de um Rei triste, era muito feliz. Todas as manhãs, o pajem chegava com o desjejum do seu Amo, sempre rindo e cantarolando alegres canções. O sorriso sempre desenhado em seu rosto, e a atitude para com a vida sempre serena e alegre. Um dia o Rei mandou chamá-lo:

-- Pajem - disse o Rei - qual é o seu segredo?

-- Qual segredo, Alteza?

-- Qual o segredo da tua alegria?

-- Não existe nenhum segredo, Majestade.

-- Não minta, pajem...bem sabes que já mandei cortar muitas cabeças por ofensas menores do que a sua mentira!

-- Mas não estou mentindo! Não guardo nenhum segredo.

-- E por que estás sempre alegre e feliz?

-- Majestade, eu não tenho razões para estar triste: muito me honra servir à Vossa Alteza, tenho minha esposa e meus filhos, e vivemos na casa que a Corte nos concedeu; somos vestidos e alimentados, e sempre recebo algumas moedas de prata para satisfazer alguns gostos... como não estar feliz?

-- Se você não me disser agora mesmo qual é o seu segredo, mandarei decapitá-lo - disse o Rei. Ninguém pode ser feliz por essas razões que você me deu!

-- Mas Majestade, não há nenhum segredo... Nada me satisfaria mais do que sanar a Vossa curiosidade, mas realmente não há nada que eu esteja escondendo.

-- Vá embora daqui antes que eu chame os guardas.

O pajem sorriu, fez a habitual reverência e deixou o Rei em seus pensamentos. O Rei estava como louco. Não podia entender como o pajem poderia ser feliz vivendo em uma casa que não lhe pertencia, usando roupas de terceira mão e se alimentando dos restos dos cortesãos. Quando se acalmou mandou chamar o mais sábio de seus conselheiros, e lhe contou a conversa que tivera com o pajem pela manhã.

-- Sábio, por que ele é feliz?

-- Ah, Majestade! O que acontece é que ele está fora do Círculo...

-- Fora do Círculo?

-- Sim.

-- E é isso o que faz dele uma pessoa feliz?

-- Não, Majestade. Isso é o que não o faz infeliz...

-- Vejamos se entendo: estar no Círculo sempre nos faz infelizes?

-- Exato.

-- E como ele saiu desse tal Círculo?

-- Ele nunca entrou.

-- Nunca entrou? Mas que Círculo é esse?

-- É o Círculo dos 99...

-- Realmente não entendo nada do que você me diz.

-- A única maneira para que Vossa Alteza entenda seria mostrando pelos fatos.

-- Como?

-- Fazendo com que ele entre no Círculo.

-- Isso! Então o obrigarei a entrar!

-- Não, Alteza, ninguém pode ser obrigado a entrar...

-- Então teremos que enganá-lo?

-- Não será necessário... se lhe dermos a oportunidade, ele entrará por si mesmo.

-- Por si mesmo? Mas ele não notará que isso acarretará sua infelicidade?

-- Sim, mas mesmo assim entrará... Não poderá evitar!

-- Me diz que ele saberá que isso será o passo para a infelicidade e que mesmo assim entrará?

-- Sim. O senhor está disposto a perder um excelente pajem para compreender a estrutura do Círculo? -Sim.

-- Então nesta noite passarei a buscar-lhe. Deves ter preparada uma bolsa de couro com 99 moedas de ouro. Mas devem ser exatas 99, nem uma a mais, nem uma a menos.

-- O que mais? Devo levar escolta para proteger-nos?

-- Nada mais do que a bolsa de couro, Majestade...

-- Então vá. Nos vemos à noite.

Assim foi... Nessa noite o sábio buscou o Rei e juntos foram até os pátios do Palácio. Se esconderam próximo à casa do pajem, e lá aguardaram o primeiro sinal. Quando dentro da casa se acendeu a primeira vela, o sábio pegou a bolsa de couro e junto a ela atou um papel que dizia as seguintes palavras: "Este tesouro é teu. É o prêmio por ser um bom homem. Aproveite e não conte a ninguém como encontrou esta bolsa". Logo deixou a bolsa com o bilhete na porta da pajem. Golpeou uma vez e correu para esconder-se. Quando o pajem abriu a porta, o sábio e o Rei espiavam por entre as árvores para verem o que aconteceria. O pajem viu o embrulho à sua porta, olhou para os lados, leu o papel, agitou a bolsa e, ao escutar o som metálico, estremeceu dos pés à cabeça, apertou a bolsa contra o peito e rapidamente entrou em sua casa. O Rei e o sábio se aproximaram então da janela para presenciar a cena. O pajem havia despejado todo o conteúdo da bolsa sobre a mesa, deixando somente a vela para
iluminar. Havia se sentado e seus olhos não podiam crer no que estavam vendo...Era uma montanha de moedas de ouro! Ele, que nunca havia tocado em uma dessas, de repente tinha um mote delas...Ele as tocava e amontoava, acariciava e fazia brilhar à luz da vela. Juntava e esparramava, fazendo pilhas... E assim, brincando, começou a fazer pilhas de 10 moedas. Uma, duas, três, 4, 5.... e enquanto isso somava 10, 20, 30, 40, 50... até que formou a última pilha... 99 moedas? Seu olhar percorreu a mesa primeiro, buscando uma moeda a mais, logo o chão e finalmente a bolsa. "Não pode ser" . pensou. Pôs a última pilha ao lado das outras 9 e notou que realmente esta era mais baixa.

-- Me roubaram! Me roubaram . gritou. Uma vez mais procurou por todos os cantos, mas não encontrou o que achava estar faltando...Sobre a mesa, como que zombando dele, uma montanha resplandecia e lhe fazia lembrar que haviam SOMENTE 99 moedas."99 moedas... é muito dinheiro" . pensou.

-- "Mas falta uma... Noventa e nove não é um número completo. 100 é, mas 99 não..."

O Rei e o sábio espiavam pela janela e viam que a cara do pajem já não era mais a mesma: ele estava com as sobrancelhas franzidas, a testa enrugada, os olhos pequenos e o olhar perdido... sua boca era uma enorme fenda, por onde apareciam os dentes que rangiam. O pajem guardou as moedas na bolsa, jogou o papel na lareira e olhando para todos os lados e constatar que ninguém havia presenciado a cena, escondeu a bolsa por entre a lenha. Pegou papel e pena e sentou-se a calcular. Quanto tempo teria que economizar para poder obter a moeda de número 100? O tempo todo o pajem falava em voz alta, sozinho...Estava disposto a trabalhar duro até conseguir. Depois, quem sabe, não precisaria mais trabalhar... com 100 moedas de ouro ninguém precisa trabalhar. Finalizou os cálculos. Se trabalhasse e economizasse seu salário e mais algum extra que recebesse, em 11 ou 12 anos conseguiria o necessário para comprar a última moeda." Mas 12 anos é tempo demais... Se eu pedisse à minha esposa que
procurasse um emprego no vilarejo, e se eu mesmo trabalhasse à noite, em 7 anos conseguiríamos" - concluiu depois de refazer os cálculos.

"Mesmo sendo muito tempo, é isso o que teremos que fazer..."

O Rei e o sábio voltaram ao Palácio. Finalmente o pajem havia entrado para o Círculo dos 99!!! Durante os meses seguintes, o pajem seguiu seus planos conforme havia decidido naquela noite. Numa manhã, entrou nos aposentos reais com passos fortes, batendo nas portas, rangendo dentes e bufando com todo o mau humor típico dos últimos tempos...

-- O que lhe acontece, pajem? - perguntou o Rei de bom grado.

-- Nada, não acontece nada...

-- Antigamente, não faz muito, você ria e cantava o tempo todo...

-- Faço ou não o meu trabalho? O que Vossa Alteza esperava? Que além de pajem sou obrigado a estar sempre bem por que assim o deseja?

Não se passou muito e o Rei despediu o seu pajem, afinal, não era nada agradável para um Rei triste ter um pajem mau humorado o tempo todo...

Você, Eu e todos ao redor fomos educados nessa psicologia: sempre falta algo para estarmos completos, e somente completos podemos gozar do que temos. Portanto, nos ensinaram que a Felicidade deve esperar até estar completa com aquilo que falta. E como sempre falta algo, a idéia volta ao início e nunca se pode desfrutar plenamente da vida.

Mas, o que aconteceria se a Iluminação chegasse às nossas vidas e nos déssemos conta, assim, de repente, que nossas 99 moedas são os nossos 100%? Que nada nos faz falta? Que ninguém tomou aquilo que é nosso? Que não se é mais feliz por ter 100 e não 99 moedas? Que tudo é uma armadilha posta à nossa frente para que estejamos sempre cansados, mau humorados, desanimados, infelizes? Uma armadilha que nos faz empurrar cada vez mais e ainda assim tudo continue igual... eternamente iguais e insatisfeitos....

Quantas coisas mudariam se pudéssemos desfrutar de nosso tesouro tal como é! Se este é o seu problema, a solução para sua vida está em saber valorizar o que você tem ao seu redor, e não lamentar-se por aquilo que não tem ou que poderia ter...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A voz do silêncio


O silêncio na hora certa vale ouro. Ele pode falar mais que mil palavras, dar mil conselhos e evitar uma situação constrangedora.

Temos o hábito de falar demais e nos esquecemos que não há retorno para o que foi dito.

Muitas vezes quando não falamos acabamos dizendo muito.

Quando há atrito entre duas ou mais pessoas e elas não conseguem se conter, acabam por dizer coisas que, de maneira refletida, não diriam.

Uma discussão é como uma fogueira e as palavras são o vento que aviva a brasa; quanto mais se fala, mais a brasa arde; quanto mais as pessoas dizem nessa situação, menos refletem e acabam por alterar a voz, de maneira que no fim das contas o que se ouve são gritos.

Quantas e quantas pessoas não estragam uma relação só porque não souberam a hora certa de falar e a de calar!

Quantos desentendimentos porque, querendo se comunicar, acabaram simplesmente cortando a comunicação com palavras vazias e irrefletidas!

Quando falamos rápido demais, corremos o risco de dizer o que não diríamos se tivéssemos pensado duas vezes.

Magoamos assim as pessoas e nos magoamos.

O arrependimento que vem em seguida não apaga as palavras, não corrige os erros e deveria nos servir de lição... o que nem sempre acontece!

Poderíamos aprender a contar até 10 ou mesmo 100 antes de responder bruscamente a algo que nos afetou.

A resposta não será certamente a mesma depois de passado um tempo.

Mas para as pessoas que não conseguem se conter numa discussão, o melhor é o afastamento temporário.

É muito melhor pensar sem falar que falar sem pensar.

Uma boa noite de sono pode ser excelente para acalmar.

Costuma-se dizer que a noite dá conselhos. Penso que, sobretudo, ela nos dá a oportunidade de, sozinhos, colocar em ordem nossa cabeça.

Pensar duas vezes antes de falar, sim.

Mesmo três ou dez se necessário.

Ficar em silêncio quando a melhor resposta é o silêncio é dar ao outro a chance de pensar um pouco sobre a situação.

Em muitas brigas onde as palavras correm como as águas do rio, freqüentemente chegam a discussão coisas que nem deveriam estar lá. Vai-se desenterrando o passado com palavras e lembranças e isso ao invés de ajudar o presente, só piora.

Às vezes a melhor resposta é o silêncio, desde que não seja prolongado o bastante para cortar a comunicação.

Ficar dias sem falar com uma pessoa só porque esta está em desacordo com nossa opinião é imaturo.

Uma noite é e deve ser o suficiente para que duas pessoas possam se olhar de frente e conversar como adultos.

Isso faz parte da maturidade.

Pessoas maduras chegam na hora certa e partem na hora certa nos encontros marcados da vida.

Dizem o que deve ser dito e ouvem caladas.

Pensam seriamente no que o outro diz sem ficar obstinadas com as próprias idéias.

Elas se comunicam, dão e recebem.

Crescem em sabedoria e contribuem para que o mundo seja um lugar mais agradável de se estar.

O Último Dia de Vida


Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco.

Estava cansado porque na noite anterior fora deitar muito tarde.

Também não havia dormido bem.

Tinha tido um sono agitado.

Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se
levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na
empresa.

Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente.

Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras,
resultado das noites mal dormidas.

Nem sequer percebeu um aglomerado de pelos teimosos que escaparam da
lâmina de barbear.
"A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher",
pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.

Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um "bom dia", sem
convicção.

Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de
despedida.

Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher
apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento.

Não entendia por que ela se queixava tanto da ausência dele e vivia
reivindicando mais tempo para ficarem juntos.

Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não
estava ? Isso não bastava ?

Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o
cachorro, alegre, abanou o rabo.

Deu a partida e acelerou.

Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos,
"detalhes tão pequenos de nós dois..."

Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da
vida.

Anos atrás, gostava de assistir ao programa de Roberto Carlos nas
tardes de domingo.

Mas isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.

Pegou o telefone celular e ligou para sua filha.

Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos.

Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia
para ver o neto e o convidou para almoçar.

Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o
neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa.

Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível.

Quem sabe no próximo final de semana ?

Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder
estar com ele na hora do almoço.

Mas ele foi irredutível: realmente, era impossível.

Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas.

A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo
a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas
de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.

No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um
sanduíche e um refrigerante diet.

O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso
ficaria para o mês seguinte.

Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da
tarde.

Nem observou que tipo de lanche estava mastigando.

Enquanto engolia relacionava os telefones que deveria dar, sentiu um
pouco de tontura, a vista embaçou.

Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os
mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up.

Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria
resolvido com um café forte, sem açúcar.

Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa.
"A vida continua", pensou.

Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a
cumprir.

Nem tudo saía como ele queria.

Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o
prometido.

Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar
resultados.

Será que o gerente não conseguia entender isso ?

Saiu para a reunião já meio atrasado.

Não esperou o elevador.

Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus.

Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no
miolo da terra, e não no subsolo do prédio.

Entrou no carro, deu partida e, quando ia engatar a primeira marcha,
sentiu de novo o mal-estar.

Agora havia uma dor forte no peito.

O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro
desapareceu... os outros carros também...

Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto,
tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam
cenas de um filme que ele conhecia bem.

Era como se o videocassete estivesse rodando em câmara lenta.

Quadro a quadro, ele via esposa, o netinho, a filha e, uma após outra,
todas as pessoas que mais gostava.

Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto ?

O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo,
hoje de manhã?

Por que não foi pescar com os amigos no último feriado ?

A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo:
a do arrependimento.

Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária
entupida ou a de sua alma rasgando.

Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e
de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas.

Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e
beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... queria...
queria... mas não deu tempo...

Para entender o valor de um ano: pergunte a um estudante que não
passou nos exames finais.

Para entender o valor de um mês: pergunte a uma mãe que teve um filho
prematuro.

Para entender o valor de uma semana: pergunte ao editor de uma
revista semanal.

Para entender o valor de uma hora: pergunte aos apaixonados que estão
esperando o momento do encontro.

Para entender o valor de um minuto: pergunte a uma pessoa que perdeu
o trem, ônibus ou avião.

Para entender o valor de um segundo: pergunte a uma pessoa que
sobreviveu a um acidente.

Para entender o valor de um milisegundo: pergunte a uma pessoa que
ganhou uma medalha de prata nas Olimpíadas.

O tempo não espera por ninguém.

Valorize cada momento de sua vida.

Você irá apreciá-los ainda mais se puder dividí-los com alguém
especial.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Viver não dói!


Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o
que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que
foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas
agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós
um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um
tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e
passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades
que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por
todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos
os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não
compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com
um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos
em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado
de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com
as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
se iludindo menos e vivendo mais.

Carlos Drummond de Andrade