sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A voz do silêncio


O silêncio na hora certa vale ouro. Ele pode falar mais que mil palavras, dar mil conselhos e evitar uma situação constrangedora.

Temos o hábito de falar demais e nos esquecemos que não há retorno para o que foi dito.

Muitas vezes quando não falamos acabamos dizendo muito.

Quando há atrito entre duas ou mais pessoas e elas não conseguem se conter, acabam por dizer coisas que, de maneira refletida, não diriam.

Uma discussão é como uma fogueira e as palavras são o vento que aviva a brasa; quanto mais se fala, mais a brasa arde; quanto mais as pessoas dizem nessa situação, menos refletem e acabam por alterar a voz, de maneira que no fim das contas o que se ouve são gritos.

Quantas e quantas pessoas não estragam uma relação só porque não souberam a hora certa de falar e a de calar!

Quantos desentendimentos porque, querendo se comunicar, acabaram simplesmente cortando a comunicação com palavras vazias e irrefletidas!

Quando falamos rápido demais, corremos o risco de dizer o que não diríamos se tivéssemos pensado duas vezes.

Magoamos assim as pessoas e nos magoamos.

O arrependimento que vem em seguida não apaga as palavras, não corrige os erros e deveria nos servir de lição... o que nem sempre acontece!

Poderíamos aprender a contar até 10 ou mesmo 100 antes de responder bruscamente a algo que nos afetou.

A resposta não será certamente a mesma depois de passado um tempo.

Mas para as pessoas que não conseguem se conter numa discussão, o melhor é o afastamento temporário.

É muito melhor pensar sem falar que falar sem pensar.

Uma boa noite de sono pode ser excelente para acalmar.

Costuma-se dizer que a noite dá conselhos. Penso que, sobretudo, ela nos dá a oportunidade de, sozinhos, colocar em ordem nossa cabeça.

Pensar duas vezes antes de falar, sim.

Mesmo três ou dez se necessário.

Ficar em silêncio quando a melhor resposta é o silêncio é dar ao outro a chance de pensar um pouco sobre a situação.

Em muitas brigas onde as palavras correm como as águas do rio, freqüentemente chegam a discussão coisas que nem deveriam estar lá. Vai-se desenterrando o passado com palavras e lembranças e isso ao invés de ajudar o presente, só piora.

Às vezes a melhor resposta é o silêncio, desde que não seja prolongado o bastante para cortar a comunicação.

Ficar dias sem falar com uma pessoa só porque esta está em desacordo com nossa opinião é imaturo.

Uma noite é e deve ser o suficiente para que duas pessoas possam se olhar de frente e conversar como adultos.

Isso faz parte da maturidade.

Pessoas maduras chegam na hora certa e partem na hora certa nos encontros marcados da vida.

Dizem o que deve ser dito e ouvem caladas.

Pensam seriamente no que o outro diz sem ficar obstinadas com as próprias idéias.

Elas se comunicam, dão e recebem.

Crescem em sabedoria e contribuem para que o mundo seja um lugar mais agradável de se estar.

O Último Dia de Vida


Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco.

Estava cansado porque na noite anterior fora deitar muito tarde.

Também não havia dormido bem.

Tinha tido um sono agitado.

Mas logo abandonou a idéia de ficar um pouco mais na cama e se
levantou, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na
empresa.

Lavou o rosto e fez a barba correndo, automaticamente.

Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras,
resultado das noites mal dormidas.

Nem sequer percebeu um aglomerado de pelos teimosos que escaparam da
lâmina de barbear.
"A vida é uma seqüência de dias vazios que precisamos preencher",
pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.

Engoliu o café e saiu resmungando baixinho um "bom dia", sem
convicção.

Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de
despedida.

Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher
apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento.

Não entendia por que ela se queixava tanto da ausência dele e vivia
reivindicando mais tempo para ficarem juntos.

Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não
estava ? Isso não bastava ?

Claro que não teve tempo para esquentar o carro nem sorrir quando o
cachorro, alegre, abanou o rabo.

Deu a partida e acelerou.

Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga do Roberto Carlos,
"detalhes tão pequenos de nós dois..."

Pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da
vida.

Anos atrás, gostava de assistir ao programa de Roberto Carlos nas
tardes de domingo.

Mas isso fazia parte de outra época, quando podia se divertir mais.

Pegou o telefone celular e ligou para sua filha.

Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos.

Ficou sério quando a filha lembrou-o de que há tempos ele não aparecia
para ver o neto e o convidou para almoçar.

Ele relutou bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o
neto, mas não podia, naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa.

Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível.

Quem sabe no próximo final de semana ?

Ela insistiu, disse que sentia muita saudade e que gostaria de poder
estar com ele na hora do almoço.

Mas ele foi irredutível: realmente, era impossível.

Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas.

A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo
a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas
de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.

No que seria sua hora do almoço, pediu para a secretária trazer um
sanduíche e um refrigerante diet.

O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso
ficaria para o mês seguinte.

Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da
tarde.

Nem observou que tipo de lanche estava mastigando.

Enquanto engolia relacionava os telefones que deveria dar, sentiu um
pouco de tontura, a vista embaçou.

Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os
mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up.

Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro, que seria
resolvido com um café forte, sem açúcar.

Terminado o "almoço", escovou os dentes e voltou à sua mesa.
"A vida continua", pensou.

Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a
cumprir.

Nem tudo saía como ele queria.

Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o
prometido.

Afinal, ele estava sendo pressionado pela diretoria. Tinha de mostrar
resultados.

Será que o gerente não conseguia entender isso ?

Saiu para a reunião já meio atrasado.

Não esperou o elevador.

Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus.

Parecia que a garagem estava a quilômetros de distância, encravada no
miolo da terra, e não no subsolo do prédio.

Entrou no carro, deu partida e, quando ia engatar a primeira marcha,
sentiu de novo o mal-estar.

Agora havia uma dor forte no peito.

O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro
desapareceu... os outros carros também...

Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do teto,
tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam
cenas de um filme que ele conhecia bem.

Era como se o videocassete estivesse rodando em câmara lenta.

Quadro a quadro, ele via esposa, o netinho, a filha e, uma após outra,
todas as pessoas que mais gostava.

Por que mesmo não tinha ido almoçar com a filha e o neto ?

O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo,
hoje de manhã?

Por que não foi pescar com os amigos no último feriado ?

A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo:
a do arrependimento.

Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária
entupida ou a de sua alma rasgando.

Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e
de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas.

Queria viver, queria ter mais uma chance, queria voltar para casa e
beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... queria...
queria... mas não deu tempo...

Para entender o valor de um ano: pergunte a um estudante que não
passou nos exames finais.

Para entender o valor de um mês: pergunte a uma mãe que teve um filho
prematuro.

Para entender o valor de uma semana: pergunte ao editor de uma
revista semanal.

Para entender o valor de uma hora: pergunte aos apaixonados que estão
esperando o momento do encontro.

Para entender o valor de um minuto: pergunte a uma pessoa que perdeu
o trem, ônibus ou avião.

Para entender o valor de um segundo: pergunte a uma pessoa que
sobreviveu a um acidente.

Para entender o valor de um milisegundo: pergunte a uma pessoa que
ganhou uma medalha de prata nas Olimpíadas.

O tempo não espera por ninguém.

Valorize cada momento de sua vida.

Você irá apreciá-los ainda mais se puder dividí-los com alguém
especial.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Viver não dói!


Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o
que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que
foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas
agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós
um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um
tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e
passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades
que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por
todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos
os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não
compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com
um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos
em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado
de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com
as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
se iludindo menos e vivendo mais.

Carlos Drummond de Andrade