quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Viver não dói!


Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive. Definitivo, como tudo o
que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que
foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas
agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós
um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um
tempo feliz.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e
passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades
que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por
todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos
os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não
compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com
um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos
em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado
de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com
as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:
se iludindo menos e vivendo mais.

Carlos Drummond de Andrade

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